15 de julho de 2019
A recorrência de dor lombar em um ano é comum? 69% das pessoas com dor lombar podem ter novos episódios em um ano, mas com poucas limitações.
Estudos modernos da neurociência comparam o cérebro com uma orquestra que pode tocar várias músicas, com diferentes ritmos e volumes. A dor é uma dessas diferentes músicas que o cérebro pode tocar. Agora, como seria se pudéssemos mudar o volume e o ritmo dessa música? Como seria se pudéssemos diminuir o volume e tornar o ritmo dessa música-da-dor menos desagradável?
A dor lombar crônica é a condição de saúde que mais gera incapacidade no mundo todo1. É um problema que gera altíssimos custos para a sociedade. Para se ter uma ideia, uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que se uma pessoa SEM dor na coluna gasta em média U$ 2.000,00 ao ano com serviços médicos, um individuo COM dor na coluna gasta cerca de U$ 4.000,002. Muitos desses gastos estão relacionados com medicamentos e outros procedimentos que não são eficientes para reduzir a dor, e podem estar associados a efeitos adversos importantes3.
Educação em dor é uma intervenção simples e pode ajudar pacientes com dor lombar crônica
Uma intervenção relativamente simples e extremamente segura é a educação moderna sobre a dor. Esse tipo de educação ensina os pacientes como o sistema nervoso funciona em condições de dor aguda e crônica. Estudos tem mostrado que essa intervenção pode reduzir a dor, incapacidade e pensamentos negativos de pacientes com dor lombar crônica4. No entanto, a quantidade da melhora, quando essa intervenção é realizada isoladamente, costuma ser pequena comparada às expectativas dos pacientes de dor crônica.
Sugestões hipnóticas podem “conversar” mais facilmente com áreas do cérebro e reduzir a dor em algumas condições crônicas
Estudos prévios mostram que sugestões oferecidas logo após a indução de um estado de atenção focalizada (ou também conhecido como estado hipnótico) podem ser capazes de mudar mais facilmente a atividade do cérebro e ter maior influência na percepção, motivação e atitudes de uma pessoa. Pesquisas com pacientes também mostram que a hipnose clínica pode ser favorável para redução da dor em diversas condições crônicas como síndrome do colo irritável, fibromialgia, esclerose múltipla e dor orofacial, por exemplo5. No entanto, poucos estudos haviam investigado a utilização da hipnose clínica em pacientes com dor lombar crônica.
O primeiro estudo que demonstra que a hipnose clínica pode ajudar pacientes com dor lombar crônica
Então decidimos realizar um estudo com o objetivo de saber se a utilização de sugestões hipnóticas combinada com a educação moderna em dor poderia reduzir a dor e a incapacidade de pacientes com dor lombar crônica. Para esse estudo pesquisadores da Universidade Cidade de São Paulo, Brasil; Neuroscience Research Australia (NeuRA); e da Universidade de Washington, USA reuniram-se para verificar o efeito de uma intervenção livre de medicamentos – a Hipnose Clínica.
Nosso estudo foi recentemente publicado em uma das maiores revistas cientificas em dor6 – The Journal of Pain. Uma amostra de 100 pacientes com dor lombar crônica participou da nossa pesquisa. Cinquenta pacientes realizaram 4 sessões de educação moderna sobre a dor (utilizando o livro Explicando a Dor) por duas semanas. Outros 50 pacientes receberam a mesma educação sobre dor combinada à hipnose clínica.
Hipnose clínica e seus efeitos na dor, incapacidade e catastrofização em pacientes com dor lombar crônica
Nós observamos uma redução da dor e incapacidade em ambos os grupos de pacientes. No entanto as pessoas que receberam hipnose clínica tiveram melhoras significativamente superiores para a dor e incapacidade logo após duas semanas (imediatamente após o programa de tratamento proposto de 4 sessões). Esses efeitos na redução da dor e incapacidade mantiveram-se presentes por 3 meses (período máximo que o estudo propôs avaliar os efeitos da intervenção). Além disso, percebemos que os pacientes que receberam hipnose clínica tiveram significativamente menos catastrofização (pensamentos exageradamente negativos) do que os pacientes que receberam educação em dor isoladamente.
Em nosso estudo, 69% dos pacientes que receberam hipnose clínica tiveram uma redução clinicamente importante na intensidade da pior dor experimentada na última semana (diminuição de pelo menos 2 pontos na escada de 0-10); comparado com 36% dos pacientes que receberam educação em dor isoladamente. Em relação a incapacidade, 63% dos pacientes que receberam hipnose clínica alcançaram uma melhora clinicamente relevante; comparado a 44% daqueles que receberam a educação em dor isoladamente (diminuição de pelo menos 5 pontos na escala de 0-24).
Conclusão
Nosso estudo foi o primeiro a mostrar que a hipnose clínica pode adicionar efeitos à educação em dor a curto e a médio prazo em pacientes com dor lombar crônica. Esses dados tornam-se ainda mais importantes ao levar em consideração que a hipnose clínica é uma intervenção relativamente simples, pode ser realizada em grupo, por qualquer profissional da saúde e sem efeitos adversos importantes.
Referências
Rizzo passou como paciente por lugares sombrios da “cidade da dor crônica”. Sua passagem pela “cidade da dor crônica” tem ajudado a entender as dificuldades e expectativas dos pacientes. Apresenta experiência clinica como fisioterapeuta no manejo da dor crônica há mais de mais de 10 anos. Tem direcionado sua atenção à pesquisa cientifica e a aulas. É mestre pela Universidade Cidade de São Paulo e vem buscando seu Ph.D. no Neuroscience Research Australia. Atualmente desenvolve estratégias de educação em dor para profissionais de saúde e pacientes. Ministra cursos para o manejo da dor através da comunicação hipnótica e educação em dor. Desenvolveu o primeiro jogo sobre dor destinado à profissionais da saúde e pacientes (www.MapaDaDor.com.br).
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