Mudar o nosso próprio comportamento (terapêutico) é mais difícil do que mudar o comportamento dos nossos pacientes

novembro 30, 2016 - pesquisaemdor

2 Comments

O modelo biomédico não é suficiente para explicar a dor crônica. Embora muitos clínicos tenham adotado uma nova forma de pensar e apliquem uma visão biopsicossocial ampla em relação à (pacientes) dor crônica, a maioria dos profissionais (inclusive eu) receberam treinamento / educação focada no modelo biomédico. Sabemos de uma série de estudos que o treinamento biomédico pode influenciar as atitudes dos terapeutas e as fortes crenças sobre a dor crônica. No entanto, poucos terapeutas estão cientes do impacto que suas próprias atitudes e crenças tem sobre o paciente, e provavelmente aqueles que estão cientes disso, adotam uma visão biopsicossocial mais ampla. Aqueles que não estão conscientes provavelmente se sentem entediados com este modelo biopsicossocial – eles provavelmente nunca conseguiram uma compreensão completa do modelo ou usam desculpas (por exemplo, eu uso a CIF para nortear minhas avaliações) para cobrir o seu foco no modelo biomédico puro.

Mais especificamente, as atitudes e crenças do terapeuta influenciam as atitudes e crenças do paciente. Caso o terapeuta tenha fortes crenças biomédicas em relação à dor crônica, o paciente adotará essas crenças. Exemplos típicos de tais crenças biomédicas incluem: a dor está relacionada com a lesão tecidual; a Dor lombar crônica é devida à instabilidade da coluna vertebral ou um disco intervertebral lesado, o levantamento de objetos pesados com má postura é perigoso para a coluna lombar; os pacientes com lesões em chicote (whiplash associated disdorders) sofrem por muito tempo – então deve haver algo errado com a coluna cervical. A teoria de auto-regulação por Leventhal et al. (2003) fornece uma excelente estrutura conceitual para explicar como as crenças dos pacientes (e dos terapeutas) influenciam seu comportamento (a figura abaixo ilustra isso).

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Como as atitudes e crenças do paciente influenciam a adesão ao tratamento, os terapeutas devem estar cientes de que enfocar o modelo biomédico para a dor musculoesquelética crônica provavelmente resultará em má adesão às diretrizes de tratamento baseadas em evidência, menor aderência ao tratamento e menor resultado. O ponto de partida para a prevenção desse mau resultado envolve a auto-reflexão e auto-crítica. Por exemplo, evidências de ensaios controlados aleatórios que abordam a reabilitação da dor músculo-esquelética crônica revelaram que a auto-eficácia adequada, o combate a depressão, a modificação da catastrofização da dor e a atividade física devem ser as metas primárias de tratamento para pacientes com dor musculoesquelética crônica. Será que esses são os 4 principais alvos dos nossos tratamentos para pacientes com dor crônica? Os terapeutas com maior compreensão e tratamentos mais atualizados para pacientes com dor crônica muitas vezes dizem (ou acham) que é muito difícil mudar o comportamento dos pacientes. Em nossa experiência, isso pode acontecer em casos específicos, mas a maioria dos pacientes é “gerenciável”. Os terapeutas, no entanto, especialmente aqueles que têm muitos anos de experiência clínica, muitas vezes são mais difíceis de “ensinar”.

Uma vez que o terapeuta mantenha atitudes e crenças baseadas nas evidências sobre a dor crônica, a avaliação das atitudes e crenças dos pacientes provavelmente se tornará natural. Se o fizerem, eles podem facilmente integrar as informações sobre as atitudes e crenças dos pacientes (incluindo percepções de doença) no processo de raciocínio clínico, o que resulta em programas de tratamento adaptados individualmente que abordam especificamente as atitudes e crenças dos pacientes para melhorar a adesão e os resultados do tratamento. Isso é muito divertido e impede programas tratamento ‘chatos’ (chato para o terapeuta especialmente!). É muito divertido porque desafiar as atitudes e crenças inadequadas dos pacientes é tipicamente um desafio terapêutico imprevisível, mas que também é muito inspirador. Cada paciente será único. Sempre haverá casos novos e com novos desafios. Aproveite!

Saiba mais em:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23273516

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21917377

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21719329

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24389339

jo-nijs

Jo Nijs

Pain in Motion www.paininmotion.be

Professor at the Vrije Universiteit Brussel, Brussels, Belgium

@PaininMotion

Colaborador Internacional do PED.

pesquisaemdor

2 thoughts on “Mudar o nosso próprio comportamento (terapêutico) é mais difícil do que mudar o comportamento dos nossos pacientes

  • Carlos Alberto Vieira de Melo

    30 de novembro de 2016 at 23:13

    Excellent

    Responder
  • Carlos Alberto Vieira de Melo

    30 de novembro de 2016 at 23:16

    Good

    Responder

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