15 de julho de 2019
A recorrência de dor lombar em um ano é comum? 69% das pessoas com dor lombar podem ter novos episódios em um ano, mas com poucas limitações.
No mundo contemporâneo, enfrentamos um cenário de crise econômica global, com cortes de gastos e falta de verba nos mais diversos setores da economia, dentre eles a área da saúde. A busca por abordagens de tratamento que ofereçam melhores resultados associadas a baixos custos e menor tempo de retorno ás atividades normais e, por isso tornou-se foco de diversas pesquisas nos últimos anos, principalmente em condições clínicas que são responsáveis por altas taxas de afastamento e absenteísmo no trabalho, como a dor lombar.
Devido á influência que a sintomatologia e a incapacidade associada aos mecanismos que causam a dor lombar, esta condição já é considerada por muitos pesquisadores um problema socioeconômico característico da população atual, uma vez que é um dos maiores motivos pelos quais as pessoas procuram ajuda profissional nos dias de hoje, seja ela de médicos, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos, nutricionistas, entre outros. Em países com grande parcela da população sendo economicamente ativa, estima-se que nos dias de hoje, despesas relacionadas a dores na coluna superem quaisquer gastos com demais condições que afetem a saúde do indivíduo.
Isso pode ser associado ao fato de que a dor lombar é uma condição heterogênea, ou seja, que pode se manifestar devido a diversos fatores, sejam eles mecânicos (no caso de má postura, por exemplo), químicos (caso de inflamações nas raízes nervosas, por exemplo) ou psicossociais, o que dá origem á uma variedade enorme de tratamentos possíveis para o manejo de determinados sintomas que podem ser realizados por diversos profissionais da área da saúde. No entanto, embora já haja um consenso que existem diferentes tipos de pacientes e de dores lombares, ainda não se sabe quais as abordagens mais apropriadas para tratar cada um deles.
Hoje, sabemos que o prognóstico (previsão para o curso de uma doença ou disfunção) para dor lombar na maioria dos casos é excelente, e por isso, independentemente da origem dos sintomas do paciente, ou dos fatores que contribuíram para o surgimento do quadro de dor, é necessário educar o paciente sobre a sua condição, orientando-o a respeito da criação de novos hábitos para lidar com os sintomas, bem como a importância de manter-se em movimento, fazer uso de terapias ativas e sem supervalorizar achados em exames de imagem, enfatizando que a interpretação da dor e a atitude perante a ela são importantes e influenciam positivamente nos resultados da dor lombar.
Devemos, sem dúvida, encarar a dor como uma questão de alta prioridade e buscar ajuda profissional, principalmente para excluir bandeiras vermelhas, que embora apenas cinco pessoas em 100 apresentem determinadas condições, são sinais que não podem ser ignorados – como fraturas, infecções e câncer – e precisam de maior participação da equipe médica; também devemos estar atentos à presença de bandeiras amarelas, que podem ser preditoras de um risco da dor lombar se tornar crônica devido a fatores psicossociais e precisam de uma abordagem da equipe da psicologia associada às terapias ativas.
Além disso, a incapacidade devido à dor nas costas aumentou em mais de 50% nos últimos 28 anos e a dor lombar está se tornando mais prevalente em países de renda baixa e média muito mais rapidamente do que nos países de alta renda, tornando o aperfeiçoamento da alocação de recursos disponíveis e a organização de um sistema de saúde com maior qualidade, tanto ético como eficiente, um tema de interesse geral.
Por isso, a tendência da pesquisa contemporânea que é norteada pela busca de abordagens de tratamento mais custo-efetivos para dor lombar e que pode gerar impactos positivos, tanto para os pacientes como para o sistema de saúde em geral é o estudo de programas de segunda opinião – definida como a oportunidade do paciente solicitar uma consulta com um segundo profissional da área da saúde para corroborar ou não a conduta do primeiro profissional diante de sua condição clínica -, bem como o estudo de abordagens de tratamento (conservador ou cirúrgico) mais personalizadas, com participação de equipes multiprofissionais e que incluam a educação em dor como parte do tratamento.
A hipótese é que com a conscientização dos pacientes em relação aos seus sintomas e às opções disponíveis para seu tratamento baseadas em evidências científicas, haja uma redução tanto de custos, como de tempo gasto em procedimentos que não proporcionam benefícios ao paciente e, consequentemente tornando a prática clínica em geral mais racional e ética, o que é uma vantagem para todas as vertentes da sociedade.
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Fisioterapeuta aluna de doutorado do programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, sob orientação do Prof.Dr. Mario Ferretti Filho. Mestre em Reabilitação e Desempenho Funcional pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e colaboradora do Instituto Wilson Mello em pesquisas relacionadas ao tratamento da dor lombar baseado no Sistema de Classificação em Subgrupos TBC.
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