A APLICAÇÃO CLÍNICA DA EDUCAÇÃO EM DOR.

janeiro 19, 2017 - pesquisaemdor

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A APLICAÇÃO CLÍNICA DA EDUCAÇÃO EM DOR.

Para entendermos a importância da Educação em Dor, é preciso reconhecer a necessidade de se ter uma visão mais ampliada sobre dor. O primeiro passo é considerar que a dor é o mecanismo de defesa (o alerta) mais potente e que seu objetivo é manter a integridade do corpo. Esse mecanismo pode ser influenciado por fatores emocionais, cognitivos, comportamentais e ambientais. Independente se a dor é aguda ou crônica, a interação desses fatores estará sempre presente.

Algums pessoas podem apresentar crenças distorcidas sobre funcionamento do corpo que fazem parte da sua própria lógica ou foram criadas ou mesmo reforçadas pelos profissionais de saúde econsultas a parentes ou internet.  Como diz o lema do PED, é necessário “entender para modificar a dor”. As pessoas com dor tem interesse em aprender sobre a sua DOR. No entanto, existem alguns problemas que podem dificultar o entendimento ou mesmo a modificação de crenças distorcidas. Um desses problemas pode ser as explicações provenientes de outros profissionais. Por muito tempo, recorremos à modelos tradicionais (com base biomédica, buscando causas específicas), para explicar a dor aos pacientes. Um estudo de Louw et al. (2012) com 200 cirurgiões de coluna identificou que os tópicos mais abordados pelos profissionais na intervenção educativa foram cirurgia (96,3%), complicações (96,3%), resultados/expectativas (93,8%), anatomia (92,6%), expectativa de dor pós-operatória (90,1%) e internação (90,1%). Tais métodos, entretanto, demonstram pouca eficácia em pacientes que sofrem com dor crônica, visto que não são capazes de responder a questões complexas relativas à dor e acabam exacerbando o medo, a catastrofização e a ansiedade (MAIER-RIEHLE e HÄRTER, 2001).

Atualmente, vemos a necessidade de modificar o modelo tradicional e recorrer à um modelo mais abrangente (biopsicossocial). Esse modelo é a base da Educação em Dor. O objetivo da educação em dor é identificar as percepções, pensamentos e crenças do paciente a respeito da sua dor e auxiliá-lo nas suas modificações. Na educação em dor são abordados conceitos sobre a neurofisiologia da dor por meio da utilização de metáforas, exemplos, imagens e outros recursos acessíveis ao paciente. Essa intervenção permite que o profissional da saúde desenvolva um processo de aprendizado, respeitando o contexto e a subjetividade do paciente e incentivando aspectos como autoconfiança, auto eficácia, aceitação, modificação de comportamentos dolorosos e prática de exercícios.

Mas por que em alguns casos pode ser difícil aplicar a educação em dor? Diversas são as hipóteses para explicar essa barreira que os profissionais de saúde poderão encontrar que vão desde a inflexibilidade psicológica até a inabilidade do profissional. No entanto, uma outra possibilidade pode envolver uma situação comum em nosso país, a baixa escolaridade. A baixa escolaridade vem se mostrando relacionada ao baixo letramento em saúde, que é a capacidade que a pessoa tem realizar tarefas cognitivas simples e também de cuidar da própria saúde.

Outro fator que merece destaque para que a intervenção de educação em dor tenha sucesso é a relação terapeuta-paciente. Nessa relação a escuta, tanto por parte do paciente quanto do profissional de saúde desempenha papel importante. O paciente deve deixar de ser espectador e ser protagonistas no seu tratamento. Assim, poderá ter autonomia para intervir e questionar as informações que lhe são apresentadas, o tratamento que está sendo oferecido e as crenças e comportamentos que já possui.  O profissional de saúde deve desenvolver aspectos interpessoais sendo amigável, interessado e participativo durante a abordagem do paciente. É fundamental apresentar uma explicação numa linguagem acessível, para que possa ser melhor compreendida por eles. Para uma revisão dos fatores que influenciam a relação terapeuta paciente leia a revisão sistemática da nossa colaboradora Mary O’Keeffe (O’KEEFFE et al., 2016).

Entretanto, não devemos considerar que a partir desse momento, iremos aplicar Educação em Dor e desconsiderar as demais técnicas. As intervenções como a terapia manual e os exercícios são bem vindos para as pessoas com dor. As estratégias de educação em dor irão permitir que o paciente modifique suas crenças, emoções e comportamento facilitando a aderência para as outras intervenções.

Devemos buscar a melhor estratégia para o nosso paciente. O material disponibilizado pelo PED pode ajudar na intervenção em dor. Existem áreas específicas tanto para os profissionais de saúde quanto para os pacientes. É possível fazer download de cartilhas, imagens e aplicar o Caminho da Recuperação, onde o paciente acompanha a trajetória de um personagem e sua história de dor lombar. Outras estratégias como o Mapa da Dor também vem se mostrando promissoras para Educação em Dor. Lembre-se que o conhecimento e as modificações de comportamento necessitam de paciência e são um processo que pode ocorrer em tempos diferentes de pessoa para pessoa. Mas não desista, pois é preciso Entender para Modificar a dor.

LOUW, Adriaan et al. Preoperative education for lumbar radiculopathy: A survey of US spine surgeons. The International Journal of Spine Surgery, v. 6, n. 1, p. 130-139, 2012

MAIER-RIEHLE, B.; HÄRTER, M. The effects of back schools–a meta-analysis. International Journal of Rehabilitation Research, v. 24, n. 3, p. 199-206, 2001.

O’Keeffe, M. et al. Patient-therapist interactions in musculoskeletal physiotherapy: A qualitative systematic review and meta-synthesis. Manual Therapy, v. 25, p. e84, 2016.

 

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Juliana Valentim

Aluna do 4 ano do Curso de Fisioterapia do IFRJ.

Participa como aluna de Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa em Dor na linha sobre “Estratégias Educativas para pessoas com Dor”

Integrante do Pesquisa em Dor.

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