15 de julho de 2019
A recorrência de dor lombar em um ano é comum? 69% das pessoas com dor lombar podem ter novos episódios em um ano, mas com poucas limitações.
Até recentemente a dor era considerada um aspecto decorrente da lesão tecidual, que surgia a partir da ativação de receptores periférico e informavam ao sistema nervoso que havia uma ameaça real ou potencial. Com o advento da neurociência, novas tecnologias de investigação, e estudos de neuroimagem mostrou-se que ter dor, não necessariamente é sintoma de lesão ou inflamação ativa. E tendo essa prerrogativa como base, justificou-se muitos quadros clínicos de dor crônica, que ocorrem após uma lesão ser cicatrizada, ou mesmo sem lesão alguma, como pode ser observado em quadros de fibromialgia ou dor lombar inespecífica. Desta forma, muitas terapêuticas aplicadas no tratamento da dor crônica mostram-se ineficazes, ou de baixa resolubilidade, quando aplicadas isoladamente, por levar em consideração um pensamento cartesiano em relação ao fenômeno dor. Na tentativa incansável de remediar o sofrimento de pacientes com dor crônica, chegou-se a conclusão que terapias com abordagem periférica e central podem ter bons resultados. Neste contexto, de abordagem central, pode-se citar a prática de meditação como recurso terapêutico no auxilio de pacientes com dor crônica.
Como a meditação vai aliviar a dor? Vai desviar o foco de atenção? Deve-se ter em mente que dor não tem apenas um componente físico ou discriminativo, há também elementos cognitivos-motivacionais, que são responsáveis pelo comportamento e emoções frente à dor crônica. Assim, a meditação pode ser definida como uma forma de treinamento mental que visa melhorar as capacidades psicológicas básicas de um indivíduo, como auto-regulação atencional e emocional. É neste sentido que esse método vai auxiliar pacientes com dor crônica.
A meditação engloba uma família de métodos que incluem a prática da atenção plena, mantras, ioga, taiji e qi gong. Destas práticas, a meditação da atenção plena – muitas vezes descrita como atenção não crítica às experiências de momento presente – tem recebido maior atenção na pesquisa de neurociência nas últimas duas décadas [1].
Não devemos ser reducionistas em relação às práticas tradicionais, pois os benefícios podem ser observado tanto nos aspectos físicos, psíquicos e até no âmbito espiritual, para aqueles que às buscam com este objetivo. No entanto, um fenômeno observado no mundo moderno é a releitura destas práticas a partir de um olhar científico, eliminando aspectos esotéricos das práticas meditativas tradicionais e com a intenção de avaliar o real benefício sob uma perspectiva científica.
Uma das práticas que tem ganhado grande ênfase no meio acadêmico é a meditação de atenção plena, ou como mais popularmente conhecida, o mindfulness. Mindfulness é um método derivado da prática budista vipassana. O objeto de meditação ou contemplação é o momento presente, as sensações e emoções que surgem no aqui e agora do praticante, evitando se deixar levar pelos pensamentos e assim se desligar do momento presente [2].
Poderia-se citar os inúmeros benefícios da prática de meditação em diversos tipos de sintomas ou doenças, mas talvez na dor crônica ela se mostra realmente muito aplicável. Como está bem estabelecido no escopo científico da neurociências, a dor crônica não é somente um fenômeno periférico, a combinação com modificações no sistema nervoso central. A ativação de inúmeras regiões cerebrais faz com que perpetue a sensação de dor. Um estudo de neuroimagem em meditadores voluntários realizado por Zeidan et al. 2012 mostrou que na presença de calor nocivo, a meditação reduz significativamente o nível de processamento das informações que chegam em uma área do cérebro chamada de córtex somatossensorial primário (SI) correspondente ao local de estimulação. As análises de regressão revelaram que a redução da intensidade da dor relacionada à meditação foram associados com maior atividade no córtex cingulado anterior rostral (rACC), uma área envolvida no controle cognitivo e maior atividade córtex orbitofrontal (OFC) e menor ativação do tálamo (Thl) foram associadas com diminuições nos índices de dor [3].
Até recentemente, acreditava-se que o alívio da dor por meio da prática de meditação mindfulness se dava por liberação de opióides no tronco cerebral, no entanto, Zeidan et al. 2016 demonstram que altas doses de naloxona, um antagonista opióide não reverte a analgesia promovida pela meditação. O estudo concluiu que a habilidade meta-cognitiva de reconhecer e deixar de lado os eventos sensoriais que surgem envolve um sistema modulador da dor único e auto-facilitado. A meditação mindfulness reduz significativamente a dor a partir de um regime de treinamento mental e essa redução ocorre independentemente do sistema inibitório da dor (opioidérgico). Desta forma, a meditação de atenção plena é um processo cognitivo complexo que provavelmente envolve várias redes cerebrais e mecanismos neuroquímicos para atenuar a dor, envolvendo múltiplos mecanismos neurais que inclui córtex pré-frontal ventro-lateral e córtex orbitofrontal lateral que estão relacionados aos aspectos avaliativos da dor, assim como a redução da atividade talâmica, reduzindo a resposta sensorial da dor [4].
Referências
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