15 de julho de 2019
A recorrência de dor lombar em um ano é comum? 69% das pessoas com dor lombar podem ter novos episódios em um ano, mas com poucas limitações.
Com a popularização de smartphones, as “app stores” tem visto um aumento substancial no número de aplicativos (apps) disponíveis para ajudar a monitorar e tratar condições de saúde. Apesar destes aplicativos oferecerem grande potencial em ajudar as pessoas a melhorarem e manterem sua saúde, atualmente não existem regulamentações sobre o conteúdo desses apps. Portanto, os usuários ficam vulneráveis a escolherem aplicativos com recomendações inapropriadas.
Tendo em vista este problema, o nosso grupo de pesquisa decidiu conduzir um estudo investigando a qualidade dos aplicativos disponíveis para o tratamento da dor lombar, que foi recentemente publicado na Best Practice & Research: Clinical Rheumatology. Nos selecionamos dor lombar devido a alta prevalência desta condição na população e também devido ao elevado número de apps disponíveis nas “apps stores” que prometem aos consumidores alívio rápido e resolução dos sintomas da dor lombar. Além disso, os guias de prática clínica atuais recomendam que os pacientes devem participar de forma ativa do plano de tratamento. Portanto, aplicativos tem o potencial de facilitar o engajamento dos pacientes em seus tratamentos. O nosso estudo teve como objetivo responder as seguintes perguntas: 1) Qual é a qualidade dos aplicativos atualmente disponíveis para o tratamento da dor lombar (em termos de funcionalidade e design)? 2) As intervenções oferecidas pelos aplicativos são embasadas em evidência científica e estão de acordo com os guias de prática clínica?
Para responder estas perguntas nós conduzimos uma revisão de apps para o tratamento da dor lombar. Nos realizamos as buscas nas lojas da iTunes e Google Play da Austrália, em Novembro de 2016. A qualidade dos apps foi avaliada em termos de funcionalidade e design através de uma escala que avalia os apps de acordo com cinco áreas: i) engajamento (diversão, interesse, customização, interatividade e direcionamento ao publico), ii) funcionalidade (intuitivo, fácil de aprender a usar, navegação, fluxo lógico e design gestual do aplicativo), iii) estética (design gráfico, visual atrativo, esquema de cores e consistência estilística), iv) qualidade da informação (qualidade e quantidade de informação, credibilidade do desenvolvedor), e v) qualidade subjetiva. O conteúdo do app foi comparado com o guia de prática clínica recentemente publicado “National Institute for Health and Care Excellence (NICE) guidelines” para verificar se eles recomendam intervenções embasas pela evidência (categorizado como sim/não).
Nós encontramos 723 aplicativos na busca inicial através do uso da palavra-chave “back pain”. Após analisar a descrição de cada aplicativo, 61 apps desenvolvidos para o paciente e atualizados recentemente foram selecionados. Em geral, os apps oferecem intervenções recomendadas pelos guias de prática clínica, como yoga, Pilates, alongamentos e exercícios de fortalecimento muscular. No entanto, apenas seis apps recomendam um combinação de educação associado a um programa exercício, o que é recomendado pelo guia NICE. Apenas três apps recomendam tratamentos que não estão listados no guia de prática clínica. A qualidade dos apps é baixa e os principais problemas incluem poucos atributos de engajamento, visual não atrativo e a informação oferecida é de baixa qualidade e de fonte questionável. Nenhum dos apps foram testados por estudos científicos para investigar a sua eficácia e segurança em reduzir a dor lombar. Além disso, nós encontramos que a qualidade dos app não está associada com a avaliação feita por usuários disponível nas “app stores”. No entanto, os aplicativos pagos obtiveram melhores escores de qualidade.
Apesar do alto numero de apps disponível para dor lombar, a eficácia e segurança deles na melhora dos sintomas de pacientes com dor lombar ainda não foi testada. Portanto, a eficácia destes apps deve ser testada usando desenhos de estudo robustos. Em geral, a qualidade dos apps é baixa. Os desenvolvedores de apps devem trabalhar em conjunto com profissionais da saúde, pesquisadores e pacientes para desenvolver apps com melhor qualidade. Atenção especial deve ser dada para garantir que a recomendação é acurada, baseada em evidência e o app dever ser interativo. Baseado nos nossos achados, os usuários de apps não devem usar a avaliação disponível nas “apps stores” para guiar a seleção do app. A nossa revisão alerta os usuários sobre a baixa qualidade dos apps disponíveis para dor lombar e ressalta que no momento não existe nenhuma evidência que esses apps funcionam, já que a sua eficácia ainda não foi testada.
Referência
Machado GC, Pinheiro MB, Lee H, et al. Smartphone apps for the self-management of low back pain: A systematic review. Best Practice & Research Clinical Rheumatology (Ahead of print)
Marina Pinheiro é fisioterapeuta e Mestre em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Ela completou o Doutorado em Ciências da Saúde na Universidade de Sydney, Austrália em 2016. Ela é autora de mais de 30 artigos científicos, a maior parte na área de dor musculoesquelética. Atualmente ela é professora do departamento de Fisioterapia da Universidade de Sydney.
Email: marina.pinheiro@sydney.edu.au
Twitter: @mabpinheiro
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