Muitos pacientes com dor crônica, incluindo aqueles com distúrbios crônicos associados a lesão em chicote, apresentam características de sensibilização central (SC). A SC é um processo caracterizado por hipersensibilidade generalizada do sistema somatossensorial. O mau funcionamento das vias ascendentes e descendentes do sistema nervoso central desempenha um papel crucial no mecanismo de sensibilização central e é caracterizado pelo aumento da atividade das vias de facilitação da dor, o que implica somação temporal da dor secundária (wind-up). Além disso, a SC inclui o mau funcionamento das vias inibitórias descendentes da dor descendente, o que resulta em analgesia endógena disfuncional (1).

A acupuntura é um método de tratamento amplamente utilizado para pacientes com dor crônica, incluindo aqueles com distúrbios crônicos associados ao chicote cervical. Considerando o seu mecanismo de ação, as agulhas de acupuntura foram tradicionalmente pensadas para canalizar energia ou “Qi” através de “meridianos” corporais, mas a ciência não identificou estruturas anatômicas relacionadas a esses meridianos. A medicina chinesa antiga provavelmente estava certa ao propor a acupuntura como um tratamento para a dor, mas seus mecanismos de ação ainda permanecem obscuros.

Então, como a acupuntura alivia a dor? Uma hipótese sobre o mecanismo da acupuntura inclui: efeitos periféricos (por exemplo, cicatrização de tecidos), efeitos espinhais (por exemplo, somação temporal e teoria das comportas), efeitos supraespinhais (por exemplo, efeitos inibitórios) e efeitos psicológicos (por exemplo, resposta autonômica, resposta placebo) (2).

Pain in Motion Group, é um grupo internacional de pesquisa com foco em dor crônica que demonstrou recentemente que em pacientes com distúrbios crônicos associados ao chicote cervical, uma sessão de tratamento de acupuntura em comparação com uma sessão de tratamento de relaxamento resulta em melhorias mais fortes no limiar de  dor a pressão no pescoço.

A observação da diminuição do limiar de dor à  pressão no pescoço ocorreu com ou sem a insuflação isquêmica e dolorosa do manguito de pressão no braço direito (modulação condicionada da dor), sugerindo um efeito da acupuntura na analgesia endógena. No entanto, os efeitos da acupuntura na modulação da dor condicionada (isto é, efeito de modulação da dor condicionada na somação temporal) não diferiram da observada na resposta ao tratamento com o relaxamento. Do mesmo modo, não foram encontradas diferenças entre acupuntura e o relaxamento na somação temporal da dor a estímulos de pressão, quer na região dolorosa (ou seja, no pescoço) ou em uma localização distinta (isto é, a perna) (3).

Após uma sessão de tratamento de acupuntura, a resposta autonômica durante a administração experimental da dor mudou ligeiramente: a frequência cardíaca foi ligeiramente reduzida e a condutância da pele foi aumentada. No entanto, em comparação com as mudanças observadas após uma sessão de tratamento de relaxamento, não foram observados efeitos específicos de acupuntura na resposta autonômica à dor. Além disso, a redução da sensibilidade à dor no pescoço após uma sessão de tratamento da acupuntura não estava relacionada a mudanças na atividade autonômica, implicando que a analgesia não é causada por analgesia induzida pelo estresse, mas é mais provável o resultado de uma reação específica da acupuntura (4).

Em conclusão, demonstramos que uma sessão de acupuntura ativa os mecanismos de analgesia endógena para pacientes com distúrbios crônicos associados ao chicote cervical. A terapia de acupuntura e relaxamento parece ser bem tolerada. Nossas descobertas visam os mecanismos envolvidos na rede de modulação de dor. Isso também faz uma forte afirmação de que a pesquisa da acupuntura é muito mais do que uma terapia complementar inconclusiva.

1. Meeus, Nijs et al (2008), Pain 139,439-448
2. Carlsson et al (2002), Acupunct Med, 20 (2-3): 82-99
3. Tobbackx et al (2013), Eur J Pain, 17 (2): 279-89
4. De Kooning et al (2015), Pain Physician, 18 (6): 527-36

Yannick Tobbackx

Fisioterapeuta e Acupunturista
Proprietário do DE ZUIL  (www.dezuil.be)
Especialização na abordagem de pacientes com dor crônica
Membro do grupo de pesquisa Pain in Motion (na área de pesquisa de acupuntura)